Inês de Castro vive na nova aliança social entre Portugal e Espanha

D. Ignez de Castro (Retrato feito sobre o da estátua jacente do seu túmulo em Alcobaça), ilustração de Alfredo Roque Gameiro, 1899

INÊS DE CASTRO VIVE NA NOVA ALIANÇA SOCIAL ENTRE PORTUGAL E ESPANHA 
Texto de opinião por Pedro Nogueira Simões 
Publicado a 8 de Novembro, 2025 | N´O Cidadão 

“Séculos depois de Inês morrer por amor, Portugal e Espanha reencontram-se pela
solidariedade.”

Há séculos, em Coimbra, junto ao Mondego, nasceu uma das histórias mais intensas da nossa memória: Inês de Castro, a mulher que amou um príncipe e se tornou rainha depois da morte.
O amor entre Inês e D. Pedro desafiou convenções, coroas e fronteiras. Uniu Portugal e Castela num sentimento que o poder político não soube aceitar, e que o tempo consagrou como símbolo da eternidade.

Inês foi executada por ordem de D. Afonso IV, o pai do homem que a amava. O gesto cruel transformou-a em mito — prova de que o amor pode vencer a espada e resistir ao cálculo dos reinos.

Hoje, mais de seiscentos anos depois, Portugal e Espanha voltam a cruzar destinos. Não pela tragédia, mas pela cooperação.

Está a nascer uma rede ibérica de fundações com função social, que pretende unir instituições dos dois lados da fronteira para fortalecer o tecido humano da Península. É um movimento discreto, mas histórico: pela primeira vez, fundações portuguesas e espanholas articulam-se para partilhar recursos e projetos no combate à desigualdade, à exclusão e à solidão dos mais vulneráveis.

Onde antes houve guerras, há agora pontes. Onde outrora o amor proibido de Inês foi punido, surge agora o amor social — aquele que se traduz em ações e políticas de proximidade.

O mesmo território que testemunhou o drama entre o trono português e a nobreza castelhana acolhe hoje um pacto civilizacional de solidariedade. Se o poder de então matou Inês para proteger fronteiras, o poder de agora percebe que só a cooperação constrói futuro.

A nova rede ibérica nasce como gesto político e moral: resposta à fragmentação e ao egoísmo. Um esforço de quem entende que a dignidade não conhece nacionalidade.
Inês morreu porque amou além das fronteiras impostas. A rede ibérica vive porque reconhece que é preciso amar — no sentido social — para lá das fronteiras administrativas.

Portugal e Espanha olham-se hoje sem o peso das coroas nem o eco das espadas. Olham-se como quem reconhece no outro uma extensão da própria história.
Se os túmulos de Alcobaça foram colocados frente a frente para que, no fim dos tempos, os amantes se olhem nos olhos, esta aliança ibérica faz-nos olhar uns para os outros já em vida — com a promessa de um futuro comum.

No fundo, o poder continua a erguer muros, e o amor — seja de duas pessoas ou de dois povos — insiste em derrubá-los. Entre o amor que desafiou a morte e a rede que desafia a indiferença, Portugal e Espanha escrevem juntos uma nova página da velha história de Inês de Castro — onde a ternura vence o medo, e a solidariedade é coroada rainha antes que seja tarde demais.

Pedro Nogueira Simões
Advogado, Psicólogo e Investigador Universitário
Inês de Castro Vive na Nova Aliança Social Entre Portugal e Espanha | Por Pedro Nogueira Simões 8 de Novembro, 2025 | N´O Cidadão 

Saiba mais sobre o novo Projeto “Rede Ibérica de Fundações” da Fundação Mapfre, que tem o Jornal Expresso como Media Partner
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